III Feira do Livro do Sistema Penal estimula contato da população privada de liberdade com a literatura
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Idealizada pela Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo (SSPS) e Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), em parceria com a 69ª Feira do Livro de Porto Alegre, foi realizada na manhã desta quinta-feira (9), em formato híbrido, a III Feira do Livro do Sistema Penal. Voltado às pessoas privadas de liberdade, o evento busca potencializar o acesso à cultura, levando virtualmente para dentro das unidades prisionais escritores de renome estadual e nacional.
Neste ano, a atividade contou com a palestra do escritor, publicitário e palestrante Alê Garcia, autor do livro “Negros Gigantes: as personalidades que me fizeram chegar até aqui”, entre outras obras. A abertura ocorreu no Memorial do Rio Grande do Sul, com a presença do secretário de Sistemas Penal e Socioeducativo, Luiz Henrique Viana, do presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, Maximiliano Ledur, e da superintendente adjunta dos Serviços Penitenciários, Deisy Vergara.
Viana destacou a importância da leitura para o tratamento penal, difundida entre as regiões por meio de projetos e parcerias ao longo de todo o ano. “Mais do que convidarmos as pessoas privadas de liberdade a embarcarem na leitura, estamos convidando-as para libertarem-se pela leitura. Tenho certeza que através dela é possível viver experiências que, talvez, não teríamos se não fosse por meio das palavras”, pontuou.
Para a superintendente adjunta, Deisy Vergara, é missão da Susepe a ressocialização das pessoas privadas de liberdade, sendo a educação um dos pilares para que essa ressocialização seja alcançada. “Entendemos que a leitura, além de abrir portas, é também uma forma de liberdade, por isso, é importante a participação em eventos como a Feira do Livro. E que esse encontro seja uma mola propulsora para que demais projetos voltados para esse tema sejam desenvolvidos".
Representando a organização da Feira do Livro de Porto Alegre, Maximiliano Ledur parabenizou as instituições envolvidas e o esforço empregado em oportunizar a ação para o público privado de liberdade.
Ao todo, 27 unidades prisionais do Estado e cerca de 160 pessoas privadas de liberdade acompanharam o evento.
Vivência com a literatura
Durante a fala, Alê Garcia apresentou sua trajetória desde a primeira escrita até o início do seu podcast e do seu canal em uma plataforma de streaming. O autor falou sobre a potência da literatura em sua própria vida e como busca contar histórias de pessoas negras e sua cultura, visando ao empoderamento daqueles que se identificam com seus personagens.
Nascido no bairro Restinga, em Porto Alegre, o autor trouxe um panorama histórico de como a população negra foi sendo isolada em regiões periféricas da cidade para que pudesse ser invisibilizada. Diante de tal cenário, a região foi sendo modificada pelas pessoas deslocadas, tendo elas que se reorganizar e redescobrir novos fazeres para que tivessem destaque.
"O Brasil é o 2° país com a maior população negra no mundo, mas é isso que a gente vê? A gente vê na mídia essa população sendo representada? Somos um público negro com alto poder de consumo, mas não vemos essas pessoas sendo representadas. Isso é muito danoso, porque cria estereótipos sociais. A gente faz com que brasileiros não se vejam na publicidade, na mídia e na televisão, e você não pode ser aquilo que você não pode ver. Então, eu decidi contar histórias de pessoas negras, que vão inspirar e ajudar a entender o mundo como ele é".
Ao final, os apenados que assistiam de forma remota nos estabelecimentos prisionais fizeram perguntas sobre preconceito, autores de referência, percurso do autor, educação sobre povos negros nas escolas e a importância de projetos voltados ao combate ao racismo.
Texto: Jéssica Britto/Ascom SSPS e Marcelle Schleinstein/Ascom Susepe